domingo, 31 de agosto de 2008

Borboletas


O que mais tem interessado à companhia, na relação da dança com a fotografia, é o estado de latência do filme antes de ser completamente revelado e as próprias fases de revelação da imagem. Cada um de nós começa, aos poucos, a descobrir suas próprias "latências" no corpo. Latências que são desejos, vontades, incubações de universos fantásticos que queremos compartilhar. Corpos que guardam pequenos segredos latejantes, loucos para romper as barreiras da pele para virar imagens em movimento.
A minha latência hoje se divide em 4 fases de revelação:
1. Reconhecimento do próprio corpo, mapeamento da estrutura externa. Constragimento de um corpo onde carrego todos os meus desejos e que já não dá conta de revelar tudo o que eu sinto. Desconforto dentro da estrutura. Estranhamento, vergonha. Tentativas de superar os limites físicos e extrapolar a mulher que se move livre cá dentro de mim. Borboletas presas em paredes imaginárias querendo sair.
2. A grande tentativa de parecer mais mulher e de ser sensual. Tentativa de chamar a atenção a qualquer custo, de fazer com que olhem para mim. Busca dos artifícios que me cabem: costas, ombros, pernas, olhos. A exposição patética. Frustração.
3. O desejo íntimo de entregar meu coração à alguém. De confiar e ganhar confiança. De ser amada e aprender a amar. Descobrir a mulher de alguém e com alguém. Construir relação.
4. Abrir, abrir, abrir ...
Abrir espaço para que essa mulher apareça.
Abrir possibilidades para que novas coisas aconteçam.
Abrir o olhar para o que está a volta.
Abrir o peito para o que a vida oferece.

SE abrir!

Olho d'água

A nascente apareceu repentina ao pé da cama. Irritou-se a princípio, tanta água estragando o sinteco. Nem identificou a poça, constante apesar de panos e baldes.

Logo teve que se convencer. Água surgia do cimento, taco, sem que cano algum passasse nas vizinhanças. Era a benção de uma fonte.


Banhou-se então seguidas vezes na água milagrosa. Ao entardecer despia-se, levantava a água nas mãos em concha e a despejava sobre o corpo. Não tornava a vestir-se. Deitava nua na cama, lavadas as carnes, preciosa a pele. E com mãos suaves alisava o corpo santo, acariciava-se em redescoberta de amor. Suspirosa adormecia seu sono de festa. Aumentando a água, infiltrou porém no teto do vizinho. Que houve por bem reclamar com porteiro síndico polícia, comparecendo o bombeiro a mando da lei para, cimento e brocas, acabar com o estranho surgimento.

Ao entadecer brilha seco o sinteco. Mas do umbigo, fresca e clara, água brota alagando o ventre, lavando as carnes brancas sobre a cama.



Marina Colasanti

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Uma das Latências...

Entre os bares

Beba, meu amor, fique para cima a noite toda
As coisa que você poderia fazer, você não vai, mas deveria
O potencial que você terá e que nunca verá
As promessas que você apenas fará

Beba comigo agora e esqueça a pressão dos dias
Faça o que eu digo e eu te deixarei bem, e deixá-las afastadas
As imagens presas na sua cabeça
Pessoas com quem você tem estado antes, que voçê não quer mais ao seu redor
Que empurram e metem e não vão se curvar para a sua vontade
eu ainda vou mantê-los

Beba, amor, olhe para as estrelas
eu vou te beijar de novo entre os bares de onde eu estou te vendo
alí, com as mãos no ar esperando para serem finalmente agarradas

Beba mais uma vez, e eu vou te fazer minha
Eu te deixarei profundamente distante no meu coração, separada do resto
onde você será a melhor
e manter as coisas que você esqueceu
Pessoas com quem você tem estado antes, que voçê não quer mais ao seu redor
Que empurram e metem e não vão se curvar para a sua vontade
eu ainda vou mantê-los



Arrasô hein Juli

Busca: Amar e ser amado

Amar e ser amado, isso que me impulsiona a caminhar para frente. Quero uma pessoa para dividir uma vida; uma casa, filhos, cachorros, etc. Constituir uma família. Busco isso desde o momento que sai de Salvador quando terminei o segundo grau. Mais do que dinheiro e status, que também acho muito importante, acho que sempre busquei um lugar onde eu pudesse chamar de lar e que tivesse alguém me esperando.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Falando um Pouco...

Descobrir uma latência, uma coisa que me pega de um jeito todo especial e poder dividir isso com um público às vezes é meio complicado, mas através da pesquisa em dança com a desCompanhia estamos investigando essas formas de comunicar nossas latências.
Um trabalho e tanto, que vem de encontro com muitas coisas que pensamos e sentimos, revelar uma latência é algo que instiga nossa pesquisa, a cada descoberta, a cada fase dessa revelação vamos nos descobrindo, juntando toda nossa experiência com poemas, fotos, imagens e muita conversa tentando por tudo isso em ordem.
A comunicação é uma das coisas que busco pesquisar, como esse comunicado chega até as pessoas? pela voz, movimentos, gestos ou imagens; tento de algum modo comunicar com a minha dança, fazendo ligações.
A pesquisa está apenas no começo, então está lançada uma forma de comunicação.
" O que está em crise são as coisas em si mesmas ou nossa maneira de apreciá-las"

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

INTERSEÇÃO E/OU AS DIFERENÇAS

Compartilhando um aprendizado meu.
A verdade está no caminho do meio, meio é a interseção.
A diferença é o adorno magnífico, porém é necessário procurar algo que une tudo e não se aprisionar nas diferenças - isso nos permite ampliar o nosso olhar e a intuição. Precisamos entender que a censura está em quem olha somente as diferenças.

“É preciso, para tentar distinguir o essencial, esquecer por um momento as divisões que, uma vez admitidas, arrastam todo um Alcorão de verdades intocáveis e o fanatismo conseqüente. Podem-se classificar homens em homens da direita e homens da esquerda, em corcundas e não-corcundas, em fascistas e democratas, e essas distinções são inatacáveis. Mas a verdade, vós o sabeis, é o que simplifica o mundo, e não o que gera o caos. A verdade é a linguagem que exprime o universal. Newton não “descobriu” uma lei que estivesse durante muito tempo dissimulada, como a solução de charada; Newton efetuou uma operação criadora. Fundou uma linguagem de homem que pode exprimir a queda da maçã na terra e a ascensão do sol. A verdade não é o que se demonstra, é o que simplifica.” Página 133, Terra dos Homens – Antoine Saint-Exupéry

domingo, 10 de agosto de 2008

Oi des. Pode parecer básico demais, mas achei importante voltar para o início de tudo. Então aí vai a definição de latência, segundo o dicionário Aurélio : Período de inatividade entre um estímulo e a resposta por ele provocada.( eu entendo isto como o espaço entre o desejo e sua manifestação); Incubação.
Latente: Que permanece escondido; que não se manifesta; oculto.
Vamos pensar na latência.Desvendar cada camada para chegar no centro e trazer a tona.
Sei que não estou trazendo novidade nenhuma para vcs, mas vale a pena lembrar de onde tudo começou.
Bjs apaixonados.
Cintia Napoli